Nenhum Adeus é Eterno

Dissémos adeus. Ver-te partir no teu cavalo azul esmagou-me o coração. O brilho do céu de Verão, que inveja o brilho e o azul dos teus olhos, apagou-se nesse momento. E doeu… Ainda dói, como mil punhais soterrados na carne. A tua ausência sufoca-me ao ponto de quase desfalecer, numa amargura silenciosa que pesadamente me desfaz o peito com a atroz indiferença de flocos de neve, pequenos e ardilosos tiranos que lentamente sepultam o mundo numa branquidão frígida e estéril. E nunca te toquei… Nem sei quando te verei de novo. Quanto te olho nos olhos tudo pára, nada mais existe, o próprio tempo ousa deter-se. Como te alcançar, se quando estou contigo todo um outro mundo cabe nos centímetros que nos separam? Como é cruel a impotência das minhas mãos! O que fazer, se ao mesmo tempo o universo cessa de existir nesse preciso instante? Sei que não te posso ter, e quero-te! Nunca numa vida o mesmo cometa visita a Terra duas vezes… Quantas vezes nos dá o destino uma segunda oportunidade? Quero ter-te, quero que me tenhas, quero tanto ser tua…
É já noite avançada, a viagem foi longa e dura. Acendo uma vela, deito-me na cama a contemplar a sua dança de fogo. A chama dourada, engolindo sôfrega e apaixonadamente o pavio numa combustão demorada, hipnotiza-me os sentidos. Nesta obscuridade serena, o pequeno e trémulo lume ondula em silêncio, como num êxtase carnal, tatuando no branco do tecto imagens loucas, sombras frenéticas, como se de um apêndice da minha própria mente se tratasse. A tranquilidade do quarto conflitua com o terramoto que me vai na alma, e não o domina. Não consigo parar de pensar em ti… Como esta vela, sinto-me consumir por dentro, por fora, pelas labaredas da tua luz. Uma sensação crua e primitiva apodera-se-me do espírito, avassaladora, desenfreada. Que sentimentos reais estes que me conquistam a essência e o corpo, duros e estonteantes como um instinto animal, felino! E não há razão humana que os possa explicar…
Nenhum adeus é eterno. Inabalável e corajosamente, espero por ti. Até que chegues, e até explodir em estrelas de mil cores um novo universo, só nosso, refugiar-me-ei nos núbios castelos da memória e do sonho. O sono já vence… Fecho os olhos, imaginando os teus. Conto os minutos e adormeço. Finda a noite, e até sermos um, o dia lembrar-me-á de ti… O céu renascido trar-me-á novamente o teu azul.