segunda-feira, abril 10, 2006

Esperando por Sábado


Sábado de manhã. Finalmente. Que longos estes últimos seis dias! Sepultei-me em toneladas de trabalho para matar o tempo… E mesmo assim como me parece longínquo o sábado passado! Estou ansiosa por estar novamente contigo. Salto da cama num pulo vigoroso, corro em cabriolas para o chuveiro. Devoro uma torrada, calço os ténis e saio à rua para passear os cães. Cumprimento de raspão a vizinha do prédio em frente. Como de costume, é o seu enorme dálmata que a passeia a ela. Sempre que a vejo com o cão parece-me minúscula, arrastada por aquele monte de músculos sarapintado. Felizmente o bestial cachorro até é simpático, tanto com as pessoas como com outros cães, caso contrário talvez lhe pudesse trazer sérios problemas de controlo e até quem sabe uma inconveniente conta de hospital. Também eu ando quase a reboque dos meus três branquinhos, ninguém calcula a força que três insignificantes caniches podem ter quando puxam em conjunto! Mas afinal de contas até me faz bem, tenho que ter bons travões nas pernas para segurar estas feras.
Alguns minutos depois estou de volta a casa. Distribuo gratificações pelos cachorros, arrumo a cozinha, mudo de roupa. Em todos estes afazeres, já verifiquei o telemóvel trinta vezes, mas nenhuma novidade. Ligo o computador. Talvez haja algo de novo no e-mail… Nada. Está um sol maravilhoso lá fora, o dia promete ser fantástico. Mal posso esperar para te ver novamente…

Saio de casa, meto-me no carro e vou ao teu encontro. E lá estás tu, sempre com um sorriso que me derrete o coração. Quando estamos juntos as horas voam… Podiam voar dias que nunca seriam suficientes. Por isso os sábados me são tão preciosos. Tenho tanto para te dizer… Mas por algum motivo nunca consigo. Assim sendo prometi a mim mesma que o faria hoje. Paramos o carro à beira da praia, respiro fundo. Olho-te nos olhos, e é este o momento. Tal como o imaginei mil vezes, o momento em que finalmente conseguiria dizer-te o que sinto, o momento em que finalmente saberia que sentimentos são esses. Mas quando me preparo para murmurar a primeira palavra, algo muda no teu olhar, que em segundos se perde no vazio. Abres calmamente a porta do carro, caminhas em silêncio para o areal. Debatendo-me com a porta saio desastradamente do carro, mas tu afastas-te rapidamente. No céu já não brilha o sol, e começa a agigantar-se uma fria e pesada escuridão. Estás já tão longe… Tento correr ao teu encontro, mas a areia molhada parece amarrar-se-me aos pés, barrenta, demorando-me ainda mais, paralisando-me… “Espera! Espera por mim!” Grito a plenos pulmões, desafiando uma posterior mudez permanente. Mas a tua silhueta, já ténue no horizonte, não parece deter-se. Porque não páras? Não me ouves? Grito com quantas forças tenho, mas o som é cada vez mais débil. Os meus olhos debatem-se desesperadamente com a treva crescente, mas já não te distingo. Deixo-me prostrar na areia fria, esgotada e soluçando, sozinha. Só queria dizer-te que te amo…

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Acordo abruptamente numa convulsão e calafrios no estômago. Respiro fundo, recuperando do pesadelo, tombo suavemente a cabeça para o lado. Com um ligeiro sorriso no rosto e mergulhado num sono pacífico, tu dormes. Aqui, a meu lado. Aninho-me nos teus braços, apertas-me suavemente. Num abraço reconfortante murmuras um afectuoso “amo-te”, doce, verdadeiro. O teu beijo torna-se caloroso, apertas-me com mais força. Quero dizer-te que também te amo, mas estou perdida nos teus lábios impacientes pelo consumar da deliciosa paixão…
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Acordo. Entreabro suavemente os olhos, estou só. Sonhei que sonhava, sonhei apenas… Tu não estás aqui, não te amei, nem nunca te disse o que sinto. Da última vez que estive cara a cara contigo partilhámos bons momentos, mas também aí não fui capaz de falar. Continuo deitada na cama, protestando comigo mesma por não ter tido a coragem de te dizer que te amo. Imagino uma vez mais o momento em que o farei, olhos nos olhos… Prometo a mim própria que tudo acontecerá na próxima vez que estivermos juntos. Com um suspiro, levanto-me relutantemente… É segunda-feira.