domingo, junho 06, 2010

Tempestade


Alcanço. Não te alcanço. Não estás.
Molha-me os dedos a escuridão da noite.
Inspiro a cálida brisa do seu respirar
Que me adormece a pele e a razão.
Expiro silêncio.
Não sei quem és
Mas sinto a tua falta.
Agiganta-se a aragem
Ergue-me ao ar num remoinho jocoso
Vertigem espiral que me hipnotiza.
O ar é tenso, espreme a saudade.
Fecho os olhos...
Vai chover.


Ouve. OUVE!
O que vês quando a chuva te grita?


Esventram-se as nuvens, explode um trovão.
Fogo frígido, fátuo
Rebenta e racha em dois o firmamento.
Sepulta-me no peito a respiração
Arranca-me da garganta o sopro de um grito amputado.
Já chove.


Lua, que te apagaste,
Entorna sobre mim as lágrimas da celeste mágoa
Que não é senão minha...

Provo o sangue cristalino das estrelas
Que me encharca o rosto e o âmago.
Sobressaltam-se os lábios...
Afogo no vazio cruel, redentor
Que me entalha no coração a solidão
E me enche a alma de nada
Até transbordar.



Onde estás?
.
O vento brinca-me nos cabelos
Encosta-se ao colo e rebola
Desliza um arrepio nas veias
Percorre-me como os teus dedos
Lambe-me o desejo e sussura o teu nome...
.
Quero-te!
Vem flutuar comigo nas ondas frenéticas da paixão
Que tremem ao som do sismo que em mim lateja
Funde o teu peito no meu...
A tua luz é fogo que me consome e enlouquece!
Sente a tempestade que me incendeia
Tormenta que aguça a chama que queima e não adormece!
Derrama na língua o cheiro
Do desejo que inflama e adoça o prazer
Fome que me entorpece as vísceras e me estupra a paz!
.
Vem.
Beija-me e enraíza no meu chão.
Esbofeteia-me a loucura
Que o meu sangue fervilha do que o coração não cala...
Abraça-me.
Rasga-me a roupa e a pele

Arranha-me a carne
Solta-te em mim.
Estrangula-me os seios
Castiga-me as coxas
Morde-me a vontade
Arranca de mim esta dor de te não ter!

.

Chove.
Alcanço. E ainda não te alcanço.
Não sei quem és e sinto a tua falta.
Abro os olhos e procuro-te na escuridão...
Esmago o olhar por te não ver.
Amarro o silêncio aos lábios
Que a dor já me desce à boca em derrocada.
Chuva feroz que me descarnas as pálpebras!
Que me cravas nos olhos da memória o sorriso lascivo do Amor!
Traz-me aquele por quem chamo
Enquanto me espezinhas a agonia da saudade!

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta foi a manifestação de desejo profundo que mais me tocou até hoje. Sabes quem é o autor? Espero que não te importes pois estou a prepara-me para a colocar na minha página... Obrigada

19:05  
Blogger MoonShrine said...

Olá Susu,

Obrigada pela visita e pelo comentário, fico muito contente por teres gostado! Todos os textos do blog são da minha autoria. Podes postá-los quando e onde quiseres, apenas te peço que lhes dês o crédito devido, se quiseres pôr o meu nome real, é Vanessa Cabral ;)

Beijinho e obrigada novamente!

Beijinho e obrigada!

19:35  
Anonymous Anónimo said...

Puseste em palavras o que eu sinto... E é um prazer poder dar o crédito a quem o merece. Obrigada :) e dá-lhe gás!

21:33  

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